A Demonstração dos Fluxos de Caixa
Costuma dizer-se que o lucro é uma questão de opinião. Por vezes até, uma questão de fé. Como vimos no artigo anterior, o lucro é apurado de acordo com uma série de pressupostos contabilísticos, estando sujeito a determinados juízos de valor, estimativas e opiniões que condicionam a sua objetividade. Mas o dinheiro, esse, sabemos bem o que é: é o que usamos para pagar as contas, gastar e investir. Assim, para compensar este problema, foi introduzida a Demonstração de Fluxos de Caixa.
A Demonstração de Fluxos de Caixa é a terceira demonstração financeira e foi progressivamente introduzida em Portugal, tornando-se obrigatória para a maioria das empresas.
Basicamente, existem duas vertentes da Demonstração de Fluxos de Caixa, quanto ao seu método:
- O método direto, que regista cada uma das transações de entrada e saída de dinheiro, classificando-as de acordo com a estrutura do quadro seguinte
- O método indireto, que apura os fluxos de caixa a partir da demonstração de resultados e de diferenças de saldos de determinadas rubricas do balanço do período corrente e o período anterior. Mais à frente veremos como
Rubricas |
Notas |
Datas |
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N |
N-1 |
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Fluxos de caixa das atividades operacionais – método direto |
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Recebimentos de clientes |
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Pagamentos a fornecedores |
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Pagamentos ao pessoal |
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Caixa gerada pelas operações |
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Pagamento/recebimento imposto sobre o rendimento |
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Outros recebimentos/pagamentos |
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Fluxos de caixa das atividades operacionais |
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Fluxos de caixa das atividades de investimento |
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Pagamentos respeitantes a: |
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Ativos fixos tangíveis |
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Ativos intangíveis |
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Investimentos financeiros |
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Outros ativos |
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Recebimentos provenientes de: |
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Ativos fixos tangíveis |
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Ativos intangíveis |
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Investimentos financeiros |
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Outros ativos |
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Subsídios ao investimento |
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Juros e rendimentos similares |
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Dividendos |
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Fluxos de caixa das atividades de investimento |
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Fluxos de caixa das atividades de financiamento |
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Recebimentos provenientes de: |
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Financiamentos obtidos |
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Realizações de capital e de outros instrumentos de capital próprio |
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Cobertura de prejuízos |
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Doações |
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Outras operações de financiamento |
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Pagamentos respeitantes a: |
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Financiamentos obtidos |
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Juros e gastos similares |
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Dividendos |
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Reduções de capital e de outros instrumentos de capital próprio |
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Outras operações de financiamento |
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Fluxos de caixa das atividades de financiamento |
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Variação de caixa e seus equivalentes |
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Efeito das diferenças de câmbio |
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Caixa e seus equivalentes no início do período |
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Caixa e seus equivalentes no fim do período |
Julgo que todas estas rubricas são fáceis de compreender, pelo que não me parece necessária uma explicação linha-a-linha. A Demonstração de Fluxos de Caixa preparada pelo método direto, organiza os recebimentos e pagamentos em três categorias:
- Fluxos de caixa operacionais: os que dizem respeito às operações. Neste grupo encontramos os recebimentos e pagamentos de clientes e a fornecedores, assim como os pagamentos aos colaboradores, impostos diretos entre outros pagamentos respeitantes à atividade operacional
- Na segunda parte, são apresentados os fluxos de caixa das atividades de investimento e naturalmente aqui vemos os valores que a empresa investiu e desinvestiu em ativos durante o período
- De seguida, figuram os fluxos de caixa referentes às atividades de financiamento e neles podemos analisar as entradas e saídas de dinheiro que dizem respeito a financiamentos das diversas fontes – alheias ou próprias. São também apresentados os valores doados e usados para cobertura de prejuízos
A soma de todas as rubricas acima resulta no fluxo líquido de tesouraria, que não é mais do que a quantia que entrou (ou saiu) da empresa durante este período. Este número diz-nos se a empresa está a conseguir gerar dinheiro, independentemente de estar a apresentar lucro.
Porque é tão importante esta informação?
Como vimos, a Demonstração dos Resultados é construída de acordo com princípios contabilísticos que algumas empresas menos idóneas tentam manipular. A Demonstração de Fluxos de Caixa, pelo contrário, regista simplesmente o fluxo do dinheiro. É muito mais difícil manipular esta informação e no limite bastaria analisar o saldo das contas bancárias da empresa no início e fim do período para se chegar ao fluxo líquido de tesouraria.
Por esta razão, alguns defendem que a tributação das empresas deveria incidir sobre o fluxo de caixa em vez de incidir sobre o lucro contabilístico.
Uma outra razão é que as empresas não sobrevivem sem dinheiro. A empresa pode continuar a operar por um período de tempo indeterminado com prejuízos, mas no dia em que deixa de ter dinheiro disponível para financiar as suas operações, tudo pára. Portanto, é necessário manter este tipo de controle, e de forma permanente, sobre o fluxo do dinheiro.