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14 janeiro 2014
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A Demonstração dos Resultados

A Demonstração dos Resultados é o relatório que nos mostra os detalhes dos Rendimentos (anteriormente conhecidos como proveitos) e os Gastos (anteriormente conhecidos como custos) durante um determinado período de tempo, normalmente um ano. Nela, podemos verificar se a empresa, durante o período, teve lucro ou prejuízo.

Tal como o Balanço, a Demonstração dos Resultados segue um formato padrão que as empresas têm de seguir e que tem a seguinte estrutura:

RENDIMENTOS E GASTOS

Notas

Períodos

N

N-1

Vendas e serviços prestados

     

Subsídios à exploração

     

Ganhos/perdas imputados de subsidiárias, associadas e empreendimentos conjuntos

     

Variação nos inventários da produção

     

Trabalhos para a própria entidade

     

Custo das mercadorias vendidas e das matérias consumida

     

Fornecimentos e serviços externos

     

Gastos com o pessoal

     

Imparidade de inventários

     

Imparidade de dívidas a receber

     

Provisões

     

Imparidade de investimentos não depreciáveis/amortizáveis

     

Aumentos/reduções de justo valor

     

Outros rendimentos e ganhos

     

Outros gastos e perdas

     
       

Resultados antes de depreciações, gastos de financiamento e impostos

     
       

Gastos/reversões de depreciação e amortização

     

Imparidade de investimentos depreciáveis/amortizáveis

     
       

Resultado operacional (antes de gastos de financiamento e impostos)

     
       

Juros e rendimentos similares obtidos

     

Juros e gastos similares suportados

     
       

Resultado antes de impostos

     
       

Imposto sobre o rendimento do período

     
       

Resultado líquido do período

     

 

Na análise do lucro, temos de ter presente os princípios contabilísticos subjacentes à contabilização de rendimentos e gastos. O que constitui um rendimento ou um gasto e em que momento se deve registar como tal? Não entrando em pormenores quanto a princípios contabilísticos, que são aprofundados noutro curso, vejamos os mais importantes:

Regime do acréscimo

Aos menos experientes com estes temas, surge sempre uma certa confusão entre o lucro e os influxos de dinheiro na empresa, pelo que temos neste artigo que demonstrar por que razão o lucro não corresponde exatamente a dinheiro em caixa e que uma empresa com lucro pode não ter dinheiro a entrar em caixa.

É assim porque os contabilistas registam os rendimentos e os gastos no momento em que ocorrem, independentemente do momento em que entra ou sai o dinheiro em caixa.

Por exemplo, se uma empresa adquire uma máquina para produção e se paga essa máquina no dia em que a compra, o gasto com ela relacionado irá ser reconhecido ao longo da sua vida útil e não no dia da compra.

No reconhecimento das vendas, o valor que é apresentado na Demonstração de Resultados inclui as vendas que a empresa faz a crédito. O mesmo acontece com as compras.

Assim, se uma empresa vende €1.000 num ano e tem gastos de €600 nesse mesmo ano, vai gerar um lucro de €400. No entanto, se apenas recebeu €500 dos seus clientes e pagou a totalidade dos custos no valor de €600, verificar-se-á uma saída de dinheiro em caixa no valor de €100, apesar do lucro…

Contudo, se a política de crédito for mais favorável e a empresa pagar apenas metade do valor dos gastos aos seus fornecedores e receber a totalidade dos valores dos seus clientes, o lucro será igualmente de €400 mas desta vez terá uma entrada de €700 em caixa.

Penso que através destes exemplos seja bastante claro por que razão a política de atribuição de crédito é tão importante para a maioria das empresas e simultaneamente por que é que o lucro não é necessariamente dinheiro em caixa.

Equivalência entre rendimentos e gastos

Na demonstração de Resultados, os rendimentos e os gastos têm de se reportar ao mesmo período. Se um determinado bem é adquirido para imputar à produção de um determinado período e se essa produção ainda não teve início, então essa aquisição não é reconhecida como gasto desse período. É o que acontece, por exemplo, com os stocks de matérias-primas de uma fábrica quando não são usados. São classificados como ativos até que a produção comece a gerar rendimentos.

Continuidade das operações

Os resultados devem ser apresentados com o pressuposto de que as operações irão continuar no futuro. Se a empresa tiver razões fortes para acreditar que não vai continuar a operar num futuro próximo, se tem que liquidar ou reduzir drasticamente as suas operações, deve reportar esse facto e apresentar as suas Demonstrações Financeiras de acordo com princípios específicos.

Comparabilidade

Deve ser possível comparar facilmente as Demonstrações Financeiras de vários períodos diferentes. Para o analista, este aspeto é fundamental pois interessa conhecer a evolução temporal da empresa. A empresa deve portanto seguir políticas contabilísticas estáveis e explicar por que razão altera as suas políticas contabilísticas quando o faz.

Existem outros princípios importantes, que não vamos discutir aqui mas que podem ser analisados detalhadamente na Estrutura Conceptual do Sistema de Normalização Contabilística. Destacaríamos apenas os seguintes:

  • Materialidade: Apenas os valores com grandeza significativa devem ser apresentados
  • Plenitude: A informação apresentada deve ser completa
  • Tempestividade: A informação deve ser apresentada em tempo útil.

Voltando à Demonstração dos Resultados

Analisando linha-a-linha do modelo de Demonstração dos Resultados acima, temos um conjunto de rubricas com o seguinte significado:

  • Vendas e serviços prestados: são os valores das vendas, no caso de produtos tangíveis ou dos serviços prestados, quando o produto é intangível, deduzidos do IVA ou outros impostos indiretos sobre o consumo. Convém recordar o regime do acréscimo acima referido que pode ser difícil de aplicar nalguns setores, como é o caso da prestação de serviços de duração superior a um ano, por exemplo
  • Subsídios à exploração: regista os valores relativos a subsídios atribuídos pelo Estado à exploração. Por exemplo, se a empresa recebeu um montante para aquisição de uma máquina, deve reconhecer esse subsídio como rendimento ao longo da vida útil da máquina, tal como as depreciações da mesma (recorde-se do regime do acréscimo e da equivalência entre rendimentos e gastos)
  • Ganhos/perdas imputados de subsidiárias, associadas e empreendimentos conjuntos: são os valores relativos a rendimentos e ganhos de participações de capital em empresas relacionadas
  • Variação nos inventários da produção: respeita a existências produzidas internamente. O rendimento é reconhecido pela diferença entre as existências finais e iniciais
  • Trabalhos para a própria entidade: são os rendimentos relacionados com a geração ou construção de ativos fixos tangíveis pela própria empresa, deduzidos dos respetivos gastos apurados inerentes à produção
  • Custo das mercadorias vendidas e das matérias consumidas: esta rubrica engloba os gastos diretamente relacionados com a produção dos bens e serviços vendidos, como por exemplo as compras de mercadorias, os salários e outros custos diretos da produção, fretes, direitos de importação, etc. Este é normalmente o gasto mais importante da Demonstração dos Resultados e convém analisar as Notas detalhadas no anexo
  • Fornecimentos e serviços externos: Esta rubrica compreende um grande conjunto de subcontas que deverão ser analisadas separadamente em pormenor. Os gastos com fornecimentos e serviços externos são os gastos com bens e serviços que não são diretamente incorporados na produção, tais como, eletricidade dos edifícios administrativos, serviços subcontratados, combustíveis não usados na produção, seguros, rendas, despesas de representação, viagens e estadias, etc.
  • Gastos com o pessoal: são os gastos com salários, encargos para a Segurança Social a cargo da empresa, despesas com refeições dos colaboradores, prémios e outros encargos diretamente relacionados com a força de trabalho
  • Imparidade de inventários: quando os inventários têm um valor inferior ao valor pelo qual podem ser liquidados no mercado, por obsolescência por exemplo, tem de ser reconhecido um gasto com imparidade, que no fundo representa a perda de valor de um ativo
  • Imparidade de dívidas a receber: seguido um critério semelhante, quando os ativos com dívidas a receber (normalmente resultantes de vendas a crédito) deixam de ter valor porque já não se espera que os clientes venham a pagar, reconhece-se um gasto por imparidade
  • Provisões: conforme referido no artigo anterior, as provisões são passivos cuja quantia ou tempestividade são incertas. A contrapartida desses passivos, é reconhecida nesta rubrica como gastos
  • Imparidade de investimentos não depreciáveis/amortizáveis: quando de um ativo não sujeito a depreciações ou amortizações, como terrenos (tangíveis) ou marcas (intangíveis) se espera uma redução significativa dos benefícios económicos futuros, reconhece-se a perda através desta rubrica. Os ativos não depreciáveis ou amortizáveis não desvalorizam com o tempo
  • Aumentos/reduções de justo valor: alguns ativos são mensurados através do custo valor, de acordo com regras específicas da contabilidade. A flutuação do justo valor ao longo do tempo é registada nesta rubrica sendo os ganhos registados em aumentos e as perdas em reduções
  • Outros rendimentos e ganhos: são rendimentos e ganhos não classificados nas rubricas anteriores
  • Outros gastos e perdas: são gastos e perdas não classificados nas rubricas anteriores

Neste ponto apresenta-se um primeiro subtotal com todas as rubricas de rendimentos e gastos acima, subtraindo naturalmente estes àqueles para chegarmos aos Resultados antes de depreciações, gastos de financiamento e impostos. Este resultado é conhecido como EBITDA (Earnings before interest, taxes, depreciation and amortization) e muito usado pelos analistas como uma medida rápida do fluxo operacional de caixa e das margens operacionais.

  • Gastos/reversões de depreciação e amortização: Os ativos não correntes que sofrem desvalorização temporal são depreciados (os tangíveis) ou amortizados (os intangíveis). O respetivo gasto do período é registado nesta rubrica
  • Imparidade de investimentos depreciáveis/amortizáveis: Regista as imparidades dos ativos sujeitos a deperecimento

Fazemos aqui um novo subtotal para apresentar o Resultado operacional (antes de gastos de financiamento e impostos), que considera todos os rendimentos e gastos diretamente relacionados com as operações. Este é também conhecido por EBIT (Earnings Before Interest and Taxes)

  • Juros e rendimentos similares obtidos: são os rendimentos com juros de aplicações financeiras e outros idênticos
  • Juros e gastos similares suportados: são os gastos com juros associados passivos financeiros e outros idênticos. Estes gastos estão diretamente relacionados com os empréstimos bancários, ou outros sujeitos a juros, contraídos pela empresa

Resultado antes de impostos: como o nome indica, neste subtotal estão todos os rendimentos e gastos do período exceto os impostos diretamente relacionados com os lucros da empresa. Este valor é frequentemente utilizado como ponto de partida para o cálculo do imposto a pagar.

  • Imposto sobre o rendimento do período: em Portugal corresponde ao IRC e derrama. Por definição, são os impostos diretos sobre os lucros

Resultado líquido do período: É o lucro líquido do período depois de subtraídos todos os gastos aos rendimentos. No fundo, é para aumentar este número que a empresa existe e portanto é o dado financeiro mais importante.

Vendas criativas

Algumas empresas tentam manipular os resultados negativamente com a intenção de enganar as Autoridades Fiscais e assim pagar menos impostos. No entanto, outras empresas procuram exatamente o oposto: querem aumentar artificialmente os resultados para enganar os seus proprietários e, desse modo, obter mais confiança ou bónus de gestão mais chorudos. Não sendo possível enumerar todo o tipo de truques usados para inflacionar os resultados, aqui fica uma lista dos mais comuns:

  1. Financiar vendas. A empresa empresta dinheiro aos seus clientes para que estes comprem os seus produtos. O financiamento é apresentado no ativo e as vendas são totalmente reconhecidas como rendimentos,
  2. Reconhecer imediatamente a totalidade dos rendimentos de serviços prestados ao longo de vários anos,
  3. Reconhecer a totalidade do valor de vendas à comissão em vez de apenas o valor da comissão,
  4. Reconhecer como rendimentos provenientes de vendas, a venda de ativos operacionais
  5. Não reconhecer dívidas incobráveis ou com baixa probabilidade de serem recebidas
  6. Reconhecer vendas antes de os clientes assinarem o respetivo contrato

No próximo artigo vamos abordar a Demonstração de Fluxos de Caixa, fique atento.


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