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17 janeiro 2014
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Analisar o Balanço: Parte II

Vamos agora começar a aprofundar um pouco as Demonstrações Financeiras. Neste artigo e nos próximos vamos analisar em profundidade o Balanço, a Demonstração dos Resultados e a Demonstração de Fluxos de Caixa.

No anexo, no fundo desta página, pode fazer o download dos modelos de Demonstrações Financeiras atualmente em vigor para a maioria das empresas em Portugal. Estes modelos são a referência que vamos seguir ao longo deste curso e a base da Análise Financeira.

Note que não vamos explicar em detalhe como se constroem as Demonstrações Financeiras, esse é o trabalho da contabilidade. A nós interessa-nos puramente a análise financeira, o trabalho que sucede à preparação das Demonstrações Financeiras e que apoia a tomada de decisões de gestão e investimento.

Se está interessado em conhecer a fundo as regras da Contabilidade Financeira – requisito que não deixa de ser exigível a um bom analista financeiro – veja o curso com o mesmo nome onde é abordado o Sistema de Normalização Contabilística (SNC) em pormenor e se resolvem inúmeros casos práticos de contabilidade.

Em que partes se decompõe o Balanço?

No artigo anterior vimos uma representação simplificada do Balanço. Na análise financeira, não podemos deixar de ter presente na nossa mente esta estrutura fundamental. No entanto, por si só, ela não é suficiente, temos de ir um pouco mais fundo. Assim, temos como modelo de Balanço o seguinte:

Rubricas

Notas

Datas 

   

 31 XXX N

 31 XXX N-1

ATIVO

     

Ativo não corrente

     

Ativos fixos tangíveis

     

Propriedades de investimento

     

Goodwill

     

Ativos intangíveis

     

Ativos biológicos

     

Participações financeiras

     

Acionistas/sócios

     

Ativos financeiros

     

Ativos por impostos diferidos

     
       

Ativo corrente

     

Inventários

     

Ativos biológicos

     

Clientes

     

Adiantamentos a fornecedores

     

Estado e outros entes públicos

     

Acionistas/sócios

     

Outras contas a receber

     

Diferimentos

     

Outros ativos financeiros detidos para negociação

     

Outros ativos financeiros

     

Ativos não correntes detidos para venda

     

Caixa e depósitos bancários

     
       

Total do ativo

     
       

CAPITAL PRÓPRIO E PASSIVO

     

Capital Próprio

     

Capital realizado

     

Ações (quotas) próprias

     

Outros instrumentos de capital próprio

     

Prémios de emissão

     

Reservas legais

     

Outras reservas

     

Resultados transitados

     

Ajustamentos em ativos financeiros

     

Excedentes de revalorização

     

Outras variações no capital próprio

     
       

Resultado líquido no período

     
       

Interesses minoritários

     
       

Total do capital próprio

     
       

Passivo

     
       

Passivo não corrente

     

Provisões

     

Financiamentos obtidos

     

Responsabilidades por benefícios pós-emprego

     

Passivos por impostos diferidos

     

Outras contas a pagar

     
       

Passivo corrente

     

Fornecedores

     

Adiantamentos de clientes

     

Estado e outros entes públicos

     

Acionistas/sócios

     

Financiamentos obtidos

     

Outras contas a pagar

     

Diferimentos

     

Passivos financeiros detidos para negociação

     

Outros passivos financeiros

     

Passivos não correntes detidos para venda

     
       

Total do passivo

     

Total do capital próprio e do passivo

     

 

O formato do Balanço é um pouco diferente do anterior. Não só porque está mais detalhado como também porque segue uma representação vertical. Em cima temos o Ativo e em baixo o Capital Próprio e o Passivo.

À direita segue-se uma coluna com notas, sendo que algumas são obrigatórias, em função do tipo de empresa e das regras do SNC, que têm como objetivo fornecer informação adicional sobre as rubricas em questão e/ou sobre as regras contabilísticas subjacentes à mensuração e apresentação dos resultados. As notas são numeradas e explicadas no anexo e é sempre útil ler atentamente essas notas que por vezes revelam informações surpreendentes.

Continuando a leitura à direita, são apresentadas duas colunas com as datas do ano mais recente e do ano anterior. Esta organização permite a comparação dos valores facilitando a análise temporal da posição financeira da empresa.

O Ativo

Duas grandes rubricas dividem o ativo:

  • O ativo não corrente (em cima)
  • O ativo corrente (em baixo)

Seguimos portanto uma ordem de liquidez: em cima estão os ativos menos líquidos e em baixo os mais líquidos.

Vejamos então o que significam as rubricas mais importantes:

Ativo não corrente

Neste grupo de ativos, encontramos os bens e direitos da empresa que não se destinam a ser vendidos ou transformados no curto-prazo. Têm um carácter de permanência e espera-se que se mantenham ao serviço da empresa durante um período alargado de tempo, sempre superior a um ano.

Deste grupo constam:

  • Ativos fixos tangíveis: tais como edifícios e terrenos fabris, viaturas, máquinas e outros bens tangíveis cuja função é produzir ou fornecer bens e serviços
  • Propriedades de investimento: são igualmente bens tangíveis, duradouros e com capacidade produtiva mas que não se destinam a ser usados na produção, fornecimento de bens e serviços nem usados para fins administrativos. São bens dos quais se esperam ganhos de capital ou obtenção de rendas. Tipicamente são imóveis
  • Goodwill: são ativos intangíveis que representam o valor pago em excesso pela aquisição de uma empresa em relação ao valor dos seus ativos líquidos. Por exemplo, quando uma empresa A compra uma empresa B por 2 milhões de euros sendo o valor do capital próprio desta de apenas 1,5 milhões, A regista goodwill pela diferença de 500 mil euros
  • Ativos intangíveis: são ativos não monetários sem substância física, tais como marcas e patentes. Têm de ser identificáveis (podem ser vendidos, transferidos, licenciados ou trocados) e têm de ser controlados pela entidade
  • Ativos biológicos: são animais vivos ou plantas que não se destinam a ser aplicados no processo produtivo
  • Participações financeiras: são investimentos noutras entidades com carácter de permanência
  • Acionistas/sócios: são valores a receber dos proprietários
  • Ativos financeiros: são títulos financeiros que não se destinam a ser liquidados no curto-prazo
  • Ativos por impostos diferidos: são valores referentes a impostos que a empresa espera receber ou abater a lucros futuros, nomeadamente por conta de prejuízos fiscais passados

Ativo corrente

O ativo corrente regista os ativos monetários ou que são rapidamente convertidos em dinheiro no decurso da atividade normal da empresa. Em situações normais, espera-se que estes ativos sejam convertidos em dinheiro em menos de um ano.

Deste grupo fazem parte:

  • Inventários: são mercadorias detidas para venda, matérias-primas ou consumíveis a serem incorporadas no processo produtivo ou
  • Ativos biológicos: são animais ou plantas vivos consumíveis ou utilizados no decurso do processo produtivo
  • Clientes: são valores a receber de clientes por vendas e prestação de serviços efetuados a crédito
  • Adiantamentos a fornecedores: são valores pagos a fornecedores por conta de compras
  • Estado e outros entes públicos: são valores de curto prazo a receber ou a descontar do Estado, normalmente pagamentos de impostos por conta
  • Acionistas/sócios: são valores a receber dos proprietários da empresa no curto-prazo
  • Outras contas a receber: são valores a receber de outras entidades no curto-prazo
  • Diferimentos: são pagamentos efetuados por gastos a reconhecer em períodos seguintes, como rendas ou seguros pagos antecipadamente, por exemplo
  • Outos ativos financeiros: são títulos ou participações financeiras que se destinam a ser liquidados no curto-prazo
  • Caixa e depósitos bancários: são o ativo mais líquido de todos, o dinheiro guardado em caixa ou no banco

Capital próprio

Como vimos anteriormente, o capital próprio é o valor contabilístico da empresa, a fonte de financiamento própria realizada pelos seus proprietários. No capital próprio figuram:

  • Capital realizado: quando a empresa é formada, um grupo de investidores junta-se e investe na empresa o seu capital inicial, que posteriormente poderá ser aumentado ou reduzido em função de entradas ou saídas de sócios e/ou aumentos e reduções de capital. O capital próprio é o dinheiro efetivamente pago pelos sócios ou acionistas da empresa para a realização do seu capital
  • Ações (quotas) próprias: é o valor das ações (no caso de sociedades anónimas) ou quotas (no caso de sociedades por quotas) da própria empresa que são sua propriedade. Tal como a empresa pode comprar ações ou quotas de outras empresas, também o pode fazer com as suas próprias
  • Reservas (legais ou outras): a empresa está obrigada por lei a reter uma parte dos seus lucros anuais e pode livremente decidir reter uma parte maior da exigida. A este valor dá-se o nome de reservas
  • Resultados transitados: são os lucros acumulados na empresa que não foram distribuídos aos sócios por via de dividendos nem mantidos em reservas
  • Resultado líquido do período: é valor do lucro ou prejuízo do período em questão. Tal como referimos no artigo anterior, este valor é transferido da Demonstração dos Resultados e contribui para aumentar ou diminuir o capital próprio

Interesses minoritários

Os interesses minoritários são o valor da situação líquida das participações financeiras detidas por outras entidades. Se a empresa A adquire 80% do capital da empresa B, as contas da empresa adquirida serão consolidadas e o balanço consolidado das duas é apresentado como se de uma única empresa se tratasse. Os restantes 20%, que são controlados por terceiros, figuram no balanço consolidado como interesses minoritários.

Passivo não corrente

Tal como o ativo, o passivo é desdobrado em duas partes, em função da liquidez das rubricas que o compõem. O passivo não recorrente é menos líquido e assume uma posição de permanência enquanto o passivo recorrente é mais líquido e não deverá figurar no balanço da empresa por mais de um ano em princípio.

No passivo não recorrente encontramos as seguintes rubricas:

  • Provisões: são passivos cuja quantia ou tempestividade são incertas. Por outras palavras, isto significa que a empresa tem uma obrigação futura mas não sabe exatamente qual é o seu valor nem estimar precisamente quando ocorrerá. Os contabilistas terão de seguir alguns pressupostos para chegarem a um número que poderão ter de ser revistos periodicamente. Esta é portanto uma área que suscita alguma discussão. Por exemplo, as empresas registam provisões para fazer face a garantias prestadas a clientes, acidentes de trabalho e doenças profissionais ou planos de reestruturação
  • Financiamentos obtidos: como o nome indica, são os montantes relativos a empréstimos contraídos pela empresa, cuja liquidação não se espere que ocorra a curto-prazo. O exemplo mais comum são os empréstimos bancários
  • Responsabilidades por benefícios pós-emprego: nesta rubrica incluímos os montantes relativos a responsabilidades assumidas pela empresa durante a reforma dos seus colaboradores, nomeadamente quanto a planos de pensões de reforma por velhice ou invalidez
  • Passivos por impostos diferidos: registam as diferenças causadas pelas regras contabilísticas e fiscais. Se uma empresa possui um imóvel que contabilisticamente está totalmente depreciado e o vende no mercado por 1 milhão de euros, gera uma mais-valia que será tributada. Ora, a empresa ao verificar a diferença do valor contabilístico e fiscal desse ativo deve reconhecer um passivo pelo valor do imposto a pagar em períodos futuros

O passivo corrente representa as obrigações de curto-prazo. Neste grupo temos:

  • Fornecedores: são as quantias em dívida aos fornecedores da empresa por compras efetuadas a crédito
  • Adiantamentos de clientes: são os montantes pagos adiantadamente pelos clientes por conta de vendas ainda não realizadas
  • Estado e outros entes públicos: montantes a pagar a curto-prazo ao Estado e outros entes públicos. Normalmente são impostos como o IVA e o IRC
  • Acionistas/sócios: são os valores dos empréstimos realizados pelos proprietários da empresa, que também se designam por suprimentos
  • Financiamentos obtidos: são os valores dos empréstimos reembolsáveis no curto-prazo
  • Diferimentos: registam os gastos do período cujo pagamento será efetuado no futuro, como por exemplo, o valor dos subsídios de férias cujo direito se adquire no ano presente mas que só serão pagos no ano seguinte. Registam também os réditos (proveitos) relativos a serviços que irão ser prestados no futuro mas que já foram faturados a clientes
  • Passivos financeiros detidos para negociação: regista as quantias de passivos financeiros que a empresa dispõe para negociação a curto-prazo.

Como vemos, o balanço pode ser bastante complexo, principalmente se se tratar de uma empresa de grande dimensão. Nos próximos artigos vamos analisar alguns casos práticos que o vão ajudar a compreender melhor esta peça contabilística mas para já vamos ver em detalhe a Demonstração dos Resultados.


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