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11 janeiro 2016
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Como usar múltiplos na avaliação de empresas

A valorização de uma empresa a partir de múltiplos (rácios financeiros que comparam valores de mercado com valores da empresa) é uma forma de complementar a sua avaliação através do discounted cash flow (DCF). Os múltiplos ajudam a triangular (validar) os resultados obtidos com o DCF e podem ser usados em empresas cuja informação financeira é escassa ou instável, como acontece com as startups. Que rácios podemos usar e que cuidados devemos ter na sua utilização?

O que são múltiplos de valorização?

Os múltiplos são rácios financeiros que ajudam a determinar o valor de uma empresa com base em valores padronizados. Talvez o múltiplo mais conhecido e usado pelos investidores e analistas seja o PER, Price to Earnings Ratio, que compara o valor da cotação de uma empresa com os resultados por ação sendo a sua expressão matemática a seguinte:

PER

Calculando este rácio para um conjunto representativo de empresas do mesmo setor chegaremos a uma média setorial que servirá dessa forma para ajudar a valorizar a empresa em análise.

Dizemos que as empresas desse setor valem em média x vezes os seus resultados anuais e se a empesa que estamos a avaliar apresenta um PER demasiado distante dos valores médios do seu setor, é provável que a empresa esteja sub ou sobre valorizada ou que a avaliação não tenha sido corretamente efetuada.

A necessidade de sumarizar e validar a avaliação de empresas

Esta análise tem a vantagem de ajudar a sumarizar e validar uma avaliação mais profunda e precisa como a que se obtém através do DCF. Porém, é comum ser realizada de forma bastante superficial e mecânica pelo que vale a pena pensar um pouco antes de se retirarem conclusões importantes.

A propósito da vantagem de sumarizar de forma rápida o processo de valorização de uma empresa, recordo um episódio que assisti há dias numa apresentação de uma aplicação que supostamente calcula o valor de uma empresa a partir do seu número de identificação fiscal (apenas o NIF e nada mais!), qual médico capaz de descobrir quanto tempo mais nos resta neste mundo a partir do nosso cartão de cidadão.

Ora, tal como temos vindo a demonstrar em artigos anteriores no Portal-Gestao.COM, a avaliação de empresas é um processo complexo que envolve pressupostos firmes sobre o crescimento, o custo de capital e o retorno do investimento para o futuro da empresa.

No fundo, uma empresa vale a soma de todos os fluxos de caixa futuros que seja capaz de gerar durante a sua existência pelo que não se pode resumir o seu valor a um simples rácio ou conjunto de rácios. A análise deve ser mais profunda do que isso e deve ser capaz de contemplar a estratégia da empresa e como esta tem o potencial para gerar valor num cenário competitivo relativamente aos seus pares.

Como podemos usar os múltiplos de valorização na avaliação de empresas e de que maneira?

Mas voltando ao tema central deste artigo, como podemos usar os múltiplos de valorização na avaliação de empresas e de que maneira?

O primeiro aspeto a ter em conta é saber escolher os múltiplos corretos. Por exemplo, o PER tende a ser relativamente mais baixo para as empresas mais endividadas porque o mercado vai descontar o valor da dívida o que baixa o numerador da fórmula do PER. Da mesma forma, a empresa mais endividada vai gerar mais resultados por unidade de capital próprio investido.

Então, se considerarmos duas empresas (A e B) que produzem exatamente os mesmos resultados e se A tem um nível de endividamento superior a B, será expetável que A tenha um PER mais baixo do que B. Mas significa isto que A vale mais (ou menos) do que B? Claro que não! Se as duas empresas geram os mesmos cash flows então deveriam ter múltiplos de valorização idênticos, o que não acontece apenas porque usamos o múltiplo errado.

Uma alternativa ao PER é a utilização do Enterprise Value sobre o EBITA que evita a distorção causada pelas diferentes estruturas de capital que não são um indicador representativo da capacidade da empresa gerar fluxos de caixa futuros e, consequentemente, do seu valor.

EV

Este múltiplo evita o efeito de alavancagem financeira porque no numerador usamos o EV que considera não só o valor do capital próprio (como no PER) mas também o valor da dívida. Desta forma, independentemente da estrutura de capital da empresa A e B, o rácio não será alterado e conseguiremos fazer uma comparação mais justa dos múltiplos de uma empresa com os seus pares.

No denominador, o EBITA é um melhor indicador do free cash flow do que os resultados líquidos. Este indicador exclui as depreciações, que funcionam como uma boa aproximação do investimento de substituição (que nalguns setores é significativo) e considera as amortizações porque estas incidem sobre ativos intangíveis mas apenas sobre os que forem adquiridos (os ativos intangíveis gerados internamente não figuram no balanço), o que também contribui para a eliminação de distorções causadas pelo efeito de diferentes estratégias de crescimento (orgânico vs. aquisição).

Existem vários outros cuidados a ter em conta na utilização de múltiplos que não terei a oportunidade de demonstrar neste artigo – talvez noutros artigos se merecerem o interesse dos utilizadores – mas um útlimo que gostaria de referir é a utilização de valores previsionais ou pró-forma em vez de valores históricos.

Porquê usar valores previsionais?

Em primeiro lugar, porque evitam distorções causadas por acontecimentos não-recorrentes. Quando usamos valores históricos, estamos basicamente a somar uma série de eventos passados que podem ser representativos ou não da capacidade da empresa gerar fluxos de caixa no futuro de forma sustentada.

Por exemplo, se a empresa no último ano alienou ativos e se essa alienação teve um impacto significativo nos resultados, deveremos excluí-lo na avaliação da empresa porque não se prevê que volte a acontecer de forma sistemática no futuro. Todavia, quando usamos valores previsionais, esse trabalho já está feito e devemos usá-lo.

Em segundo lugar, e para concluir este pequeno trabalho, a utilização de valores previsionais é adequada na medida em que incorpora expetativas quanto ao futuro. Ou seja, toda a informação conhecida com impacto no futuro da empresa está incorporada nos resultados e deverá ser usada.


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