Financial Modelling - modelos de apoio à decisão
A modelação financeira é provavelmente a área a que mais frequentemente associamos a construção de modelos de apoio à decisão. O seu principal objetivo é ajudar a decidir questões como as seguintes, entre muitas outras:
- Vale a pena lançar este novo produto?
- Será que devo avançar na construção de um novo negócio ou empresa?
- Quanto devemos pagar pela aquisição de um concorrente?
- Compensa produzir internamente um determinado componente ou devemos subcontratar?
Felizmente, existem técnicas de Financial Modelling com provas dadas que analisaremos nas páginas seguintes. Vamos concentrar-nos na estrutura de modelos financeiros e em boas práticas na construção de modelos financeiros usando folhas de cálculo.
Estrutura de modelos financeiros
A estrutura do modelo financeiro depende diretamente da questão que pretende ajudar a resolver. Se o objetivo é construir um plano de negócios para a construção de uma nova fábrica, então o modelo financeiro deve determinar o Valor Atualizado Líquido e a Taxa Interna de Rentabilidade como indicadores de viabilidade do projeto assim como a análise de diversos cenários, incluir um plano de financiamento e um plano operacional detalhado como informação mínima a fornecer aos decisores. Se, de outro modo, o propósito do modelo financeiro é planear a atividade corrente do próximo ano, então o modelo financeiro deverá comparar o desempenho dos anos recentes com a atividade planeada, preparar um mecanismo de comparação entre a atividade planeada e a atividade real e concentrar-se nos indicadores-chave do desempenho da empresa.
A questão fundamental que deverá orientar a estrutura do modelo é: qual a decisão que estamos a ponderar e de que forma irá este modelo contribuir para a sua sustentação?
Se a decisão tem de ser tomada com rapidez, temos todo o interesse em utilizar modelos (templates) que nos ajudem a construir modelos financeiros para responder às questões mais frequentes. Uma outra vantagem de utilizar templates, se foram construídos de forma profissional, é que são mais resistentes a erros.
O horizonte temporal do modelo financeiro
Um dos aspetos mais importantes a considerar no planeamento da estrutura do modelo financeiro é o horizonte temporal. Esta é uma questão um pouco controversa, de certa forma, pois parece existir a convicção de que quanto mais extenso for o horizonte temporal, mais fiável será o modelo financeiro.
Na verdade, não é assim. Se não dispomos de informação fundamental que nos permita construir um modelo além de, digamos, 5 ou 10 anos, o simples “arrastar de colunas para a direita” não irá acrescentar nada ao modelo - exceto a sua complexidade.
O horizonte temporal recomendado depende naturalmente da questão fundamental que se está a analisar. Se o modelo serve de apoio à fusão ou aquisição de uma empresa, então provavelmente a empresa-objetivo não terá uma vida útil finita. Teremos um modelo que determina o valor da empresa com o pressuposto de que ela funcionará “para sempre”. Por outro lado, questões de natureza tática, do dia-a-dia, como a aquisição do parque informático, por exemplo, terão horizontes temporais mais curtos e bem definidos.
A regra prática para lidar com o horizonte temporal consiste em decompô-lo em três períodos:
- Período de crescimento. Os primeiros anos ou meses a seguir ao arranque em que se espera um desenvolvimento rápido do projeto. Podem ser os primeiros 3 a 5 anos no lançamento de um novo negócio, por exemplo, ou podem ser os primeiros seis meses da vida de uma startup tecnológica. Deverá ser um período que assegure um certo nível de confiança quanto às variáveis fundamentais que o determinam.
- Período estável. Neste período, as taxas de crescimento inevitavelmente serão menores. Não há nenhum produto ou empresa que cresça indefinidamente a taxas superiores à taxa de crescimento da economia em que trabalha. Neste período, não conhecemos a totalidade das variáveis fundamentais que orientam o modelo, mas sentimos ainda confiança nos “grandes números” e assumimos claramente que as taxas de crescimento serão menores das do período anterior.
- Valor residual. Quando lidamos com modelos cuja vida útil é infinita, pelo menos do ponto de vista teórico, então teremos de nos apoiar em cálculos de valores residuais que recorrem a fórmulas de cálculo em perpetuidades ou de múltiplos de valorização. Neste período, tudo o que sabemos (ou esperamos) é que a taxa de crescimento dos fluxos de caixa se mantenha inalterada e a um nível modesto até à infinidade. O nosso conhecimento das operações ou do mercado em que vamos atuar é nulo.
Vamos usar valores nominais ou valores reais?
É possível construir modelos financeiros a valores nominais – que incorporam inflação – ou a valores reais – os que descontam a inflação.
Se bem construídos, estes modelos irão conduzir aos mesmos resultados. A TIR, o VAL, a avaliação da empresa, o resultado de uma decisão, favorável ou desfavorável, não se alterará em função da utilização de valores reais ou nominais. Contudo, é preferível conceber modelos financeiros a valores nominais, na maior parte dos casos. É assim porque a taxa de inflação dos países desenvolvidos é tipicamente baixa, o que facilita o raciocínio em valores que incorporam inflação.
Por exemplo, qualquer pessoa sabe qual é o valor do seu primeiro salário em termos nominais, mas poucas se dão ao trabalho de o converter em valores reais. Além disso, é frequente usar-se valores históricos para a construção de projeções financeiras. Ora, os valores históricos incluem inflação e, do mesmo modo, devem incluir inflação os valores previsionais por uma questão de consistência. O nosso pensamento está melhor preparado para lidar com valores que incluem inflação.
Se o país em causa sofrer de uma taxa de inflação elevada, então será preferível fazerem-se previsões a valores reais (e corrigir igualmente os valores históricos), porque ao longo dos anos, o efeito da inflação será muito elevado e dificultará a análise e elaboração de previsões.
Checklist com resultados do modelo financeiro
Segue abaixo o resumo de resultados (outputs) expetáveis que o modelo deve considerar:
- A pergunta fundamental que o modelo procura responder;
- Consistência e facilidade de comparação entre resultados históricos e previsões;
- Horizonte temporal;
- Períodos temporais (meses, anos, trimestres, etc.);
- Divisa(s) e taxas de câmbio de referência a utilizar;
- Unidades (monetárias e não-monetárias);
- Valores reais e nominais;
- Fatores críticos de sucesso.